Os Tempos Mudam
"Quem dos
males alheios tanto gosta
terá o seu bem cedo pelas costas."
Nas garras
adestradas de um bichano
Viu-se pobre ratinho, por má sorte.
Nada valeu ter pernas, pois o bote
Foi de mestre, sem erro ou leve engano.
Se dentada
ferina, bem cortante
O prostrasse de vez ali, sem vida,
Não lhe teria a doer tanta ferida,
Nem seria por fim tão humilhante.
Mas o felino
matreiro e bem pirata
E por costume célebre sadista,
Finge deixá-lo só, perder de vista,
Para de um salto outra vez tê-lo entre as patas.
Sem tentativas
de qualquer fugida
Fecha os olhos e aguarda já a sua hora.
Pois se é fatal que venha, sem demora,
Tirar-lhe o sofrimento desta vida.
Momentos passam,
como de um sonho
Acorda e vê da grande porta, ao alto
A tremer de pavor o mesmo gato,
Seu algoz de inda há pouco medonho.
Percebe num
relance o que se passa:
É que bem junto, ali rangendo os dentes,
Insulta o gato em gestos insolentes
um robusto e valente cão de raça.