Um Grande Brasileiro
Recebeu liberdade de seu pai por ocasião do batismo e ficou em sua companhia vários anos e com êle aprendeu desenhos de arquitetura e escultura. Dado os pendores que possuia para a arte, em pouco tempo superou aquêles que com êles trabalhavam. Foi até aos 47 anos de idade , normal como outra pessoa qualquer, se bem que dado a exagêros; tinha suas noitadas alegres, não perdia nenhum baile e o que ganhava de dia gastava à noite. De repente sua "saúde de ferro" tornou-se meio combalida e uma doença desconhecida entumeceu-lhe os dedos das mãos e dos pés, ficando apenas os polegares com os quais seus escravos amarravam as ferramentas de trabalho. Agora, doente, caminhando para a velhice, tendo que lutar contra o preconceito racial, pois era de côr, parece que o vemos em nossa frente todo cercado de problemas dos mais difíceis possíveis. A êle restava a vida e, a um homem vivo, a êle esperanças. Além disso, êle sabia que sua vida precisava ter uma finalidade e prefere lutar contra as hostes inimigas que só lhe atrofiavam a vida e a despeito de tôdas as demais imperfeições começou a produzir fascinantes molduras que ainda hoje nos encantam. "Aleijadinho" como foi conhecido, embora procurasse se ocultar dos olhos dos curiosos, contudo os seus trabalhos o colocavam num lugar onde todos o contemplavam. Por onde a influência de "Aleijadinho" passava, os seus feitos comprovavam a raridade de seu talento. Em Ouro Preto, Congonhas do Campo, Mariana e Sabará, êle deixou os seus trabalhos que comprovam a sua capacidade; em Congonhas do Campo êle deixou 64 figuras: Passos da Ceia, Hôrto, Prisão, Flagelo do Caminho do Calvário, da Crucificação e muitos outros. Tudo isto depois que "Aleijadinho", nada quase mais possuindo, resolveu vencer. A natureza o embrutecera, pois não era capaz de ouvir um palpitante gorjeio de um passarinho, anunciando a existência do Criador; contudo êle procurava alívio na Bíblia, lendo-a, assim tornou-se um vencedor. Faleceu em meio à incompreensão dos patrícios que não lhe deram apôio, o que lhe valeu foi o seu filho natural que o assistiu até os últimos instantes. Esta vida que para muitos parece obscura deve ser um estímulo para tôda a mocidade altruista que almeja vencer na vida. Tôda ela tem que ter finalidade. Viver. Existir. Como? Sendo útil. "Aleijadinho "o foi". Américo Martins |