Queres viajar? Correr mundo? Façamos nossos preparativos e marquemos o dia. Eu vou contigo, e aprenderemos juntos o que é que estamos vendo. Os olhos sem a imaginação, a admiração sem a curiosidade não podem nos ajudar muito. E’ mister um bom proveito... e vê, o navio já está chegando no pôrto de Lisbôa.

Primeiro continente é apenas uma nuvem mais densa no horizonte, mas aos poucos a terra se desenha em ponto maior até que deixa de ser desenho e torna-se realidade excitante.. Desejamos que chegue depressa a hora de descer do navio!

Pois isto que vemos é o velho mundo: é a terra que existiu antes de Cabral, e até antes de Camões! Gerou o Brasil.

Mas estamos em pleno século vinte. E’ manhã de sol de primavera. O panorama está brilhantemente colorido, embora o vento sopre frio. Do convés avista-se a colina plantada de oliveiras, uns ciprestes mais ao longe, e mais perto, as casas e o próprio cais. Nunca vimos mais ordem, pois até as casas foram recentemente pintadas em côres suaves e harmonizantes.

Se não são patrícios são irmãos da Igreja mundial de Cristo aqueles que nos vêm receber. Num pequeno automóvel atravessamos ruas largas, avenidas arborizadas, algumas com nomes brasileiros. Por outras mais estreitas chegamos a um apartamento.

Estás com pressa de dar uma volta neste belo paísinho? Vamos a Carcavelos e Leiria visitar os dois seminários evangélicos, Alcobaça e Batalha para visitar as igrejas históricas do passado português, e ainda a Fátima, onde nova Sé procura converter em lucro a visão de três pequenas do nosso século.

Visitemos também a vila de pescadores que é Nazaré: casinhas brancas, barcas e rêdes, homens e mulheres sòbriamente lidando à beira-mar ou sentados ao sol fazendo tricô à porta das casas, e dezenas de crianças por tôda a parte. As meninas já se acostumaram às fotografias e sorriem, mostrando à máquina as suas nove salas, e estendendo a mão logo em seguida para receber a nossa gorjeta.

Mas quanto tempo queres passar na Europa? Um mês, ou dois, ou três? Será sempre pouco! Cinco dias em Portugal, quatro na Espanha dez dias na Itália, e ainda estamos começando.

Se é a arte que mais te interessa, sobretudo a pintura, visitaremos o museu do Prado em Madri. Há quadros representativos de todo mundo. A mais completa coleção, entretanto, é de Goya, cujos trabalhos alí reunidos são de três tipo: impassíveis retratos da família real; impressionantes reportagens e mensagens da revolução espanhola, feitos em tons negros, escuros, um repentino rubro de sangue ou amarelo de fogo avivando a cena; e representações felizes da vida no campo, onde entre frutos e flores as crianças fazem roda, andam de perna de pau, e até os adultos têm a fartura e a felicidade. Assim contempla comigo como é que um filho da Espanha interpreta a vida de sua terra!

Viemos de Lisbôa a Madri por trem noturno. Agora, depois de uns dias por alí, passeios ao Escordial e a Toledo, visita à igreja evangélica e conversas muito informativas com os líderes locais, estamos prontos a continuar a viagem. De Madri a Roma por avião são poucas horas de vôo.

Em Roma é violento o contraste entre as ruínas do Coliseu e do Forum que lembram a força antiga, e as modernas instalações do aeropôrto e da nova estação ferroviária, por exemplo. Não sei por onde queres começar, o que mais te interessa. Ver o papa é um pouco difícil, mas a sua Sé, a imponente catedral de São Pedro, recebe sempre milhares de visitas de peregrinos e curiosos. Acompanhemo-los. As colunas e as estátuas esculpidas são tão bem proporcionadas que não dão a aparência de serem tão grandes como são, mas cada figura do parapeito no alto é dez vêzes maior que um de nós. Subindo no elevador até lá, teremos uma visita magnífica do panorama da cidade , e podemos passear no terraço, comprar cartões postais e enviá-los mesmo de lá. Ou podemos subir a escada do interior da abôboda central, indo mais alto ainda.

Na Itália há para ao sul a antiquíssima Pompéia, onde podemos visitar a parte restaurada da cidade que foi soterrada pela lavas do Vesúvio. Felizmente o vulcão agora dorme, e só nos cartões postais expele fumaça. Mais par o sul ainda as fascinantes cidades de Napoles e Sorrento, um pouco rôtas após a guerra que as deixou empobrecidas, mas com espírito refeito para as canções e tarantelas típicas.

Para o norte de Roma a estrada passa por Florença ou Veneza, e não podemos ir a ambas. Sei que sentes perder os gondoleiros dos canais venezianos e a afamada Igreja de São Marcos. Mas escolhemos Florença com suas grandes coleções de arte. Nesta cidade chegamos de ônibus, escolhemos um circuito e num dia visitamos o Palácio Pitti, a Galeria Uffizi, os Jardins Bobolli, a Catedral e o Batistério do qual o artista Ghiberti desenhou as portas de bronze em relêvo. Mais interessante ainda é atravessarmos a Ponte Vecchio e fazermos compras nos bazares em ambos os lados, por sôbre o rio.

Estás pronto a visitar outras terras? Mais para o norte há ainda os monumentos à Reforma, e as paisagens inolvidáveis da Suíça: montanhas cobertas de neve, vales atapetados de verde onde pasta um gado bonito e gordo, e lagos azuis muito azuis, refletindo o céu puro e sugerindo a paz que reina nesta terra de fortes!

Depois de subir e descer, sentir frio e calor, experimentar de tudo, e sentir o ambiente de Genebra, de Interlaken, de Lucerna, queremos dizer sòmente "Até a volta" à Suiça. Será que não haverá outra oportunidade de conhecê-la melhor?

Saíndo da Suiça podemos ir à Austria, à Alemanha, depois a Luxemburgo e a França. Se não podemos visitar tôda a França, é preciso pelo menos conhecer Paris. Ela tem sido chamada a capital do mundo porque parece que há sempre mais visitantes que parisienses ali em qualquer dia de verão, andando pelas ruas, sentadas à calçada tomando café ou um refrêsco. Os carros buzinando, os vendedores anunciando jornais, peixes, ou flores, vozes excitadas conversando em francês e em meia dúzia de outras línguas, os sinos da catedral de Notre Dame, o marulho das águas do rio Sena e o canto despreocupado e espontâneo das melodias criadas ali – tudo isto é a música de Paris.

De ônibus, com outros visitantes, vamos a Chartres ver os vitrais da catedral, a Versailles e Fontainebleau ver os palácios dos imperadores e aprender sôbre François I e Napoleão. Passamos por Barbizon onde Millet, Corot e Jacques Rousseau iniciaram todo um estilo de pintura campesina, e onde o neto dêste último ainda trabalha no mesmo atelier e recebe a nossa visita.

Queres continuar? E’ tempo de comprarmos a passagem de trem e partirmos para a Bélgica, para depois irmos a Holanda e Dinamarca. A Bélgica é o primeiro dos "países baixos" que visitamos: baixo no relêvo, plano, sem elevações. E’ boa terra para bicicletas, e em cada país vemos mais e mais destes veículos práticos para aquela gente, pois são boas as estradas e curtas as distâncias.

Há flores por tôda a parte. Em Antuérpia na Bélgica admiramos o jardim da antiga residência do pintor flamengo Rubens. Visitamos também o jardim zoológico da cidade. São pinturas belas, paisagens belas: nem sabemos onde olhar mais.

Moinhos de vento, sapatinhos de pau, canais e tulipas! Sim, estamos na Holanda. Visitemos também uma fazenda modêlo, provando queijo. E uma fábrica que prepara os diamantes.

Por terra e por água vamos então para Copenhague e depois para Londres. Sentimos, mas está chegando o fim da viagem! Copenhague é um sonho de jardins, divertimentos e progresso. Há os palácios de tempos idos e há a família real do presente que luta para a progredir o país.

Londres não podemos descrever em duas linhas. Convém demorarmos lá um pouco, visitar os seus teatros e museus, tomarmos tempo para apreendermos o seu espírito e compreendermos o significado daquilo que fêz a grandeza britânica imperar até os nossos dias. Mas levemos de lá a impressão inolvidável da cidade limpa, bem ajardinada, dos grandes ônibus vermelhos de dois níveis nos quais podemos apreciar do alto a paisagem que passa. Há os prédios do parlamento, o relógio Big Ben... Quanta coisa!

Voltemos a viajar de navio. E quando chegarmos à nossa terra ela nos será mais linda por ser vista como que com olhos de turista experimentado, e ao mesmo tempo de um filho que volta ao lar.

Trazemos conosco alguma lembranças compradas nos bazares: mas muito mais, a riqueza das experiências lembradas que podemos compartilhar com os outros.

Na Europa houve os danos de guerra. Mas o povo limpou o terreno, construiu de novo, mostrou-se indomável e expressou o seu amor pelo que é bem feito e belo. Que possa reinar mesmo a paz em nosso mundo, para que possamos ter mais oportunidades de nos conhecer e de trabalhar juntos naquilo que há ainda para fazer.

Hope Gordon