- Horas tetérrimas de
um esperar
Infindo. As horas que jamais se passam
Sem me ferir e me intranqüilizar.
Horas amargas que jamais se passam.
Olho o relógio meu, este
aleijado,
Que só se movimenta impulsionado
P'la corda e cujo ritmo é de uma dansa
Monótona, que cansa e nunca avança.
Ritmo bem louco, o do relógio meu,
Parece o ritmo em que o poeta escreveu
Estes versos sem lógica e sentido,
Escritos p'ra alegrar "o não sofrido".
Mas a rima se esgota, pois paupérrimo
É o recurso do poeta e tetérrimo
O gingar requebrado do ponteiro,
Como a consciência de um relojoeiro.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . .
E volta novamente o
pavoroso
Esperar. E o relógio sente gozo...
E o ponteiro, se estremecendo, espera
Vencer mais horas e as horas vão correndo
No mesmo ritmo, e em o ponteiro vendo
Não faz nenhum esforço. Ele tolera
A marcha sem progresso em que estivera
Rodando sobre o duro mostrador
Da vida rotineira e seu torpor.
E o ponteiro bestial não vê perigo
Conduzindo o humanal também consigo.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . .
Não sou nenhum ponteiro
humano, eu creio,
Pois se eu vivesse a dar os mesmos passos,
Sem progredir, acabrunhados, lassos,
Eu voltaria de onde o corpo veio...
É por isso que as minhas
horas vagas
Se tornam cheias de enfadonhas máguas
E o meu ser se angustia tanto assim...
Horas vagas - lucubrações sem fim...
Horas tetérrimas de um esperar
Infindo. Horas que nunca mais se passam
Paradas no Sofrer do Não Amar...
Poesia -- minha música em palavras,
Descobrisse eu em diamantinas lavras
Mataria essas horas sem sossego:
-- é isto que nos sonhos tanto almejo...
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . .
Horas que não se cansam
de passar,
Que eu sozinho estou a meditar,
Vocês parecem grandes monumentos,
Humanizando todos sofrimentos
Com o ponteiro do mundo em sua dansa
Monótona,
Que cansa
E nunca avança...